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Prefácio Foreword

 

2025

Um espaço de descoberta, de partilha e de identidade

Elza Gonçalves
Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova

É com grande honra que, pela primeira vez como Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, saúdo todos aqueles que fazem parte deste extraordinário festival — o Fora do Lugar – Festival Internacional de Músicas Antigas.
Mais do que um encontro de música antiga, o Fora do Lugar é um espaço de descoberta, de partilha e de identidade. Ele faz eco da alma do nosso território, onde o passado se reinventa e o futuro se constrói com as mãos e o coração das nossas gentes.
Idanha-a-Nova é um concelho com uma energia única — onde a cultura floresce entre aldeias históricas, campos abertos e uma comunidade que acolhe com generosidade e saber. Este festival é também uma celebração dessa força coletiva, que nos distingue e nos enche de orgulho.
A cada concerto, a cada encontro, a cada momento vivido fora do lugar, afirmamos a nossa convicção de que a cultura é um dos pilares do desenvolvimento humano e da coesão territorial.
Que este Fora do Lugar de 2025 continue a inspirar, a unir e a revelar o que de mais autêntico existe em Idanha-a-Nova e nas suas pessoas — porque é nelas que reside a verdadeira música do nosso território.

A place for discovery, sharing, and identity

Elza Gonçalves
Mayor of the Municipality of Idanha-a-Nova

It is with great honour that, for the first time as Mayor of the Municipality of Idanha-a-Nova, I greet all those who are part of this extraordinary event — Fora do Lugar – Early Musics International Festival.
More than a meeting dedicated to early music, Fora do Lugar is a place for discovery, sharing, and identity. It echoes the soul of our land, where the past is reinvented and the future is built with the hands and the heart of our people.
Idanha-a-Nova is a municipality with a unique energy — where culture flourishes amidst historic villages, open landscapes, and a community that welcomes with generosity and wisdom. This festival is also a celebration of that collective strength, which distinguishes us and fills us with pride.
With every concert, every encounter, every moment lived “out of place” (fora do lugar), we reaffirm our conviction that culture is one of the pillars of human development and territorial cohesion.
May this 2025 edition of Fora do Lugar continue to inspire, unite, and reveal what is most authentic in Idanha-a-Nova and its people — for it is within them that the true music of our land resides.

Não é um segredo e não estamos sós

Paulo Longo
Divisão de Cultura e Património Cultural
Município de Idanha-a-Nova

A beleza dos lugares mede-se de muitas formas. No “lugar mais bonito do mundo” estar Fora é, nada mais nada menos, uma das formas mais belas de lhe prestar homenagem. Poucos exemplos haverá, provavelmente, de articulação mais feliz entre cultura, pessoas, paisagem. Não se sabe onde começa e acaba cada um. O equilíbrio marca o ecossistema onde quero acreditar que todos têm consciência da sua parte, guiados pelo fio condutor da música, convertido em traço de união. Aí reside a medida da beleza ou, pelo menos, uma delas. Através dela reflectimos, movemo-nos, ansiamos, partilhamos um sentimento de pertença, numa experiência efémera de continuidade consciente que se renova a cada ano, a cada edição.
Em Idanha não há lugar ao torpor do Inverno. Entre o frio e a chuva, as auroras cristalinas e as névoas do entardecer, damos mais de nós em busca dos lugares. Onde a música vai habitar. Onde, comensais, nos reunimos. Onde experimentamos a terra.
As aves do céu são parceiros e não apenas cenário. Um jantar conta histórias de vidas, não é apenas comida. O tempo que faz convida, não afasta.
É assim todos os anos, desde que nos atrevemos a estar Fora do Lugar. Desde que a soleira do óbvio foi transposta. Não é um segredo e não estamos sós. De olhos postos em Idanha, o Mundo está atento a todos nós que, a cada ano, construímos mais comunidade, que revisitamos a paisagem dos acontecimentos, que convidamos os de cá e os de lá a participar, de alguma forma, nas variações sobre o tema dos dias, que definem cada Fora do Lugar.
A cada ano, mais do que um convite, um ritual cíclico de renovação, onde a cultura é a matéria sagrada, essencial, à volta da qual nos reunimos em comunhão. Como todas as matérias sagradas, necessita de ser cuidada, da atenção dos fiéis. Cuidar dela é um ato de fé e de amor, pelo todo e pelo próximo. Porque é frágil. E nessa condição representa-nos acima de tudo, porque, frágeis como ela, somos não raro volúveis e displicentes. Corremos o risco – terrível – de nos perdermos no processo e, assim, de perder o nosso norte, a nossa capacidade de nos guiarmos pelos valores dessa beleza que transcende a matéria e o tempo. Por isso é tão importante estarmos Fora do Lugar, hoje mais do que nunca, quando os ventos da mudança sopram e não sabemos para onde vão.
Mas se Fora é o Lugar onde nos encontramos, Fora do Lugar estamos no lugar certo. Sempre. 

It is no secret, and we are not alone

Paulo Longo
Division of Culture and Cultural Heritage
Municipality of Idanha-a-Nova

The beauty of places is measured in many ways. In the “most beautiful place in the world”, being Out (Fora) is, quite simply, one of the most beautiful ways of paying tribute to it. Few examples can probably be found of a happier interplay between culture, people, and landscape. One cannot tell where one ends and the other begins. Balance defines the ecosystem where I want to believe everyone is aware of their part, guided by the thread of music, transformed into a unifying bond. There lies the measure of beauty, or at least one of them. Through it we reflect, we move, we yearn, we share a sense of belonging, in an ephemeral experience of conscious continuity that renews itself each year, with each edition.
In Idanha there is no room for the torpor of winter. Between cold and rain, crystalline dawns and evening mists, we give more of ourselves in search of places. Where music will dwell. Where, like companions at table, we gather. Where we experience the earth.
The birds of the sky are partners, not just backdrop. A dinner tells life stories, it is not merely food. The weather invites, it does not drive away.
It is so every year, since we dared to be Out of Place (Fora do Lugar). Since the threshold of the obvious was crossed. It is no secret, and we are not alone. With eyes fixed on Idanha, the world pays attention to all of us who, each year, build more community, who revisit the landscape of events, who invite those from near and far to take part, in some way, in the variations on the theme of days that define each Fora do Lugar.
Each year, more than an invitation, it is a cyclical ritual of renewal, where culture is the sacred, essential matter around which we gather in communion. Like all sacred matter, it must be cared for, tended to by the faithful. To care for it is an act of faith and of love, for the whole and for one’s neighbour. Because it is fragile. And in that condition it represents us above all, for, fragile like it, we are not seldom fickle and negligent. We run the terrible risk of losing ourselves in the process and thus of losing our north, our capacity to be guided by the values of that beauty which transcends matter and time. That is why it is so important for us to be Fora do Lugar, today more than ever, when the winds of change blow and we do not know where they will lead.
But if Out is the Place where we meet, Out of Place (Fora do Lugar) we are in the right place. Always.

Húmus

Filipe Faria
Director, Festival Fora do Lugar + Arte das Musas

O caminho é feito de passos velhos. Estava cá antes de nós, e tudo nos espera como se fôssemos parte de um sedimento maior. No primeiro dia chegamos de novo — ou regressamos? Este lugar não é apenas cenário, é espelho, e é também corpo. Aprendemos, com o tempo, a caminhar, mas há lugares que nos ensinam a não o fazer com uma força invisível — na paisagem? —, uma força que nos convida — arrisco, que nos obriga — a sermos não apenas gestos, mas todas as histórias. A terra segura-nos e, ao mesmo tempo, inventa-nos. Ocupamos o lugar. Este lugar.
Somos, como sempre, uma tradução do território e dos lugares de encontro… Nascemos desta relação íntima, nascemos do que comemos, de como celebramos… e nada é indiferente ao chão que pisamos. Somos desenhados pela paisagem.
Aqui, em Idanha, o tempo tem uma espessura palpável. Uma espessura para além da cronologia, uma sedimentação. Aqui não medimos o chão. Deixamos um pouco de nós próprios nesta terra — húmus —, e é por isso que o caminho é feito de passos velhos. Tudo se mistura com o vento, com a água, com o nevoeiro. E, como sempre, não trazemos apenas as nossas marcas, somos recebidos por outras.
Estar fora do lugar é, afinal, um regresso. Uma grande viagem, uma grande volta ao mundo, tudo aqui e ao mesmo tempo — tudo aqui, no presente, debaixo da luz ou às escuras. Percebemos que não estamos aqui a mais, mas que somos só uma desculpa, uma boa desculpa... Nada nos pertence, mas também nada nos é estranho. É um pacto: damos e recebemos — recebemos talvez mais do que damos...
Apontamos esta caminhada e não escrevemos apenas datas e paragens. Escrevemos todos os silêncios que estão antes de todos os sons. E percebemos que a viagem não acaba porque regressamos sempre, não ao mesmo lugar, mas ao mesmo gesto... Estar aqui. Estar fora do lugar… e, por isso, estar em casa.

Humus

Filipe Faria
Director, Festival Fora do Lugar + Arte das Musas

The path is made of old steps. It was here before us, and everything waits, as if we were part of a greater sediment. On the first day we arrive anew — or do we return? This place is not merely a setting; it is a mirror, and also a body. With time, we learn to walk, yet there are places that teach us not to — moved by an invisible force — of the landscape, perhaps? — a force that invites us, or perhaps compels us, to be not only gestures, but all the stories. The earth holds us and, at the same time, invents us. We inhabit the place. This place.
We are, as always, a translation of the land and of the places where we meet. We are born of this intimate bond; we are born of what we eat, of how we celebrate… and nothing is untouched by the ground beneath our feet. We are shaped by the landscape.
Here, in Idanha, time has a palpable density — something beyond chronology, a kind of sedimentation. Here, we do not measure the ground. We leave a little of ourselves in this earth — humus — and that is why the path is made of old steps. Everything mingles with the wind, with the water, with the mist. And, as always, we bring not only our own marks; we are received by others.
To be out of place is, in the end, to return. A great journey, a great voyage around the world — all here, all at once — all here, in the present, in the light or in the dark. We come to realise that we are not intruders here, but simply a pretext — a good pretext. Nothing belongs to us, and yet nothing is foreign. It is a pact: we give and we receive — though perhaps we receive more than we give.
We record this walk, and we write not only dates and destinations. We write the silences that come before every sound. And we understand that the journey never ends, for we always return — not to the same place, but to the same gesture. To be here. To be out of place*… and, for that very reason, at home.

2024

Território de silêncios antigos e horizontes vastos

Armindo Jacinto
Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova

‘Aqui, no coração da natureza, todos os lugares são lugares de criação, onde cada som e cada gesto ganham uma nova dimensão. Este encontro é uma ponte entre tempos distantes e a promessa do que ainda está por vir, numa dança entre a memória e a reinvenção.’

Neste lugar onde nos encontramos com a terra e com o céu, acolhemos mais uma celebração da arte e da cultura. Idanha-a-Nova, território de silêncios antigos e horizontes vastos, é também um palco onde o passado conversa com o presente, e onde a música se eleva, entre o murmúrio das pedras e o sopro do vento. Aqui, no coração da natureza, todos os lugares são lugares de criação, onde cada som e cada gesto ganham uma nova dimensão. Este encontro é uma ponte entre tempos distantes e a promessa do que ainda está por vir, numa dança entre a memória e a reinvenção.
A cada passo, redescobrimos as histórias escondidas nas paredes de pedra, nos caminhos que serpenteiam, nos ecos de vozes que o tempo não apaga. E é neste cenário que se abrem novas janelas para a criatividade, onde o encontro com a arte ganha formas inesperadas.
O Fora do Lugar é presente e futuro. Em parceria com a Arte das Musas, afirmou-se como uma das maiores referências de Idanha, enquanto Cidade Criativa da Música da UNESCO. Fica o convite para mais uma experiência de som e de silêncio nas raízes profundas do nosso lugar. Sejam bem-vindos!

Territory of ancient silences and vast horizons

Armindo Jacinto
Mayor of the Municipality of Idanha-a-Nova

‘Here, in the heart of nature, every place is a place of creation, where every sound and every gesture takes on a new dimension. This encounter is a bridge between distant times and the promise of what is yet to come, in a dance between memory and reinvention.’ 

In this place where we meet the earth and the sky, we welcome yet another celebration of art and culture.
Idanha-a-Nova, a land of ancient silences and vast horizons, is also a stage where the past converses with the present, and where music rises, between the murmur of stones and the breath of the wind. Here, in the heart of nature, every place is a place of creation, where every sound and every gesture takes on a new dimension. This encounter is a bridge between distant times and the promise of what is yet to come, in a dance between memory and reinvention.
With each step, we rediscover the hidden stories in the stone walls, in the winding paths, in the echoes of voices that time does not erase. And it is in this setting that new windows to creativity open, where the encounter with art takes unexpected forms.
Fora do Lugar is the present and the future. In partnership with Arte das Musas, it has established itself as one of the major references of Idanha, as a UNESCO Creative City of Music. We invite you to another experience of sound and silence, rooted deeply in our place.
Welcome!

O vagar suficiente

Paulo Longo
Centro Cultural Raiano

"Que, à vertigem do imediato e do fugaz, contrapõe a provocação sublime de nos ensinar maneiras de encontrar, aqui, o vagar suficiente para descobrir os cambiantes escondidos de uma paisagem, de um gesto, de um simples som."

Se há apelos difíceis de explicar, Idanha não se encontrará, certamente, entre eles. Muitas são as razões, boas razões que nos puxam para este lugar. Entre elas, o Fora do Lugar. Inquestionavelmente.
O que é inexplicável para alguns tornou-se incontornável para todos os outros que se encontram, se revêem na relação espaço-tempo que Idanha consegue proporcionar neste encontro tão especial, onde – paradoxo à parte - estar fora é estar, mais do que tudo, dentro. Um sentimento que se propaga mais além, a cada ano que passa, estabelecendo diálogos, cumplicidades e partilhas.
Que, à vertigem do imediato e do fugaz, contrapõe a provocação sublime de nos ensinar maneiras de encontrar, aqui, o vagar suficiente para descobrir os cambiantes escondidos de uma paisagem, de um gesto, de um simples som.
A música é o pretexto – e que pretexto! – que nos conduz pelo meio da terra e das pessoas, de experiência em experiência, cumprindo a preceito o papel do guia atento e conhecedor dos caminhos a percorrer a cada regresso.
Outras houve e haverá, é certo, mas o Fora do Lugar configura de forma singularmente relevante as qualidades que definem Idanha-a-Nova enquanto cidade criativa na música - UNESCO incluída.
Seria indelicado passar ao lado do significado especial que o momento presente assume. O Fora do Lugar cumpre treze anos, número que assinala uma transição marcante para todos – a adolescência, naturalmente. Na expectativa do que está por vir, fica o desejo que os próximos anos, enquanto teenager, sejam plenos da energia, criatividade e entusiasmo que o acompanham desde a sua génese.

Enough stillness

Paulo Longo
Centro Cultural Raiano

‘A feeling that, in response to the immediacy and fleeting nature of our era, offers the sublime provocation of teaching us to find, in this place, enough stillness to discover the hidden nuances of a landscape, a gesture, a simple sound. the hidden nuances in the landscape, in gestures, and in simple sounds. ’  

If there are charms that are hard to explain, Idanha is certainly not one of them. Many compelling reasons draw us to this place, among them Fora do Lugar. Unquestionably.
What remains inexplicable for some has become indispensable to all others who see themselves reflected in the special space-time relationship offered by Idanha, a space for a special encounter where, paradoxically, being out is, more than anything, being within. Each passing year, this feeling deepens, fostering dialogue, complicity, sharing.
A feeling that, in response to the immediacy and fleeting nature of our era, offers the sublime provocation of teaching us to find, in this place, enough stillness to discover the hidden nuances of a landscape, a gesture, a simple sound. the hidden nuances in the landscape, in gestures, and in simple sounds.
Music serves as a pretext – and what a pretext it is! – guiding us through the land and its people, from experience to experience, perfectly fulfilling the role of the attentive guide to navigate our returns.
There have been and will be others, of course, but Fora do Lugar uniquely embodies the qualities that define Idanha-a-Nova as a creative city of music – UNESCO included.
It would be impolite to overlook the special significance that the present moment holds. Fora do Lugar celebrates its thirteenth year, a number that marks a notable transition for everyone — the teenage years, naturally. Filled with anticipation for what the future holds, we hope that the festival’s teenage years will be infused with the same energy, creativity, and enthusiasm that have been with it from the start.

De mansinho

Filipe Faria
Director do Festival Fora do Lugar
Director da Arte das Musas

ʻSabemos o que nos espera e é isso que nos traz cá… cada vibração. Aqui, fora do lugar, estamos exactamente onde devemos estar. Preparamo-nos para a surpresa e deixamo-nos ser levados. Lugar, som e silêncio. ʼ

Dizem que não é de sorte…
Estamos aqui, onde tudo parece mais fundo, onde o lugar sussurra histórias antigas e o tempo parece esticar-se em silêncio. Este lugar não é só geografia, mas uma espécie de ritual, chama-nos para fora, puxa-nos para dentro. Cada passo é um convite, de mansinho… Nada nem ninguém nos apressa. Se aceitarmos, tudo se move devagar, ressoa, suspende…
Os dias e as noites guardam silêncio. Fazemos o ar mover-se e ouvimos tudo quando se move. Descobrimos por dentro e por fora, como se este lugar fosse ao mesmo tempo espelho e janela… do que somos… do que podemos ser.
Sabemos o que nos espera e é isso que nos traz cá… cada vibração. Aqui, fora do lugar, estamos exactamente onde devemos estar. Preparamo-nos para a surpresa e deixamo-nos ser levados. Lugar, som e silêncio.
As árvores, as pedras, e até o vento são cúmplices desta vontade… sem tempo nem fronteira. Um eco de algo maior, um convite, um diálogo silencioso entre corpo e espaço, de mansinho… Somos nós e o lugar. Somos parte da paisagem, como se, por momentos, todos nos ouvíssemos ao mesmo tempo.
E dizem que não é de sorte?

Softly

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

ʻWe know what awaits us, and that’s what brings us here... every vibration. Here, out of place [fora do lugar], we are exactly where we should be. We prepare for the unexpected and allow ourselves to be carried away. Place, sound, and silence.ʼ

They say it's not lucky...
We are here, where everything seems deeper, where the place whispers ancient stories and time seems to stretch in silence. This place is not just geography, but a kind of ritual; it calls us out, pulls us in. Every step is an invitation, softly... Nothing and no one rushes us. If we accept, everything moves slowly, resonates, suspends...
Days and nights keep silent. We make the air move and hear everything as it moves. We discover inside and out, as if this place were both mirror and window... of what we are... of what we can be.
We know what awaits us, and that’s what brings us here... every vibration. Here, out of place [fora do lugar], we are exactly where we should be. We prepare for the unexpected and allow ourselves to be carried away. Place, sound, and silence.
The trees, the stones, and even the wind are accomplices in this desire... timeless and without boundaries. An echo of something greater, an invitation, a silent dialogue between body and space, softly... We and the place become one. We are part of the landscape, as if, for moments, we all hear each other at once.
And they say it's not lucky?

2023

Ruralidade inovadora

Armindo Jacinto
Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova

‘O desafio é reinventar o conceito de lugar. Idanha é o palco que nos convida a partilhar novas paisagens, onde a criatividade, a inovação e a sustentabilidade assumem uma dimensão social.’

Um evento feito de encontros, de cultura, do cruzamento entre legados ancestrais e o arrojo da modernidade. O Fora do Lugar – Festival Internacional de Músicas Antigas mostra-se ao mundo a partir de uma ruralidade inovadora. A envolvência do campo e da tradição não impedem um olhar contemporâneo sobre a sociedade. Muito pelo contrário, propõem-se novos caminhos para a criação artística, em diálogo com as comunidades locais.
O desafio é reinventar o conceito de lugar. Idanha é o palco que nos convida a partilhar novas paisagens, onde a criatividade, a inovação e a sustentabilidade assumem uma dimensão social.
Em cenários como igrejas, capelas, museus, lagares, escolas ou em plena natureza, acontecem os mais sublimes concertos e momentos culturais, que se revelam verdadeiras experiências singulares.
O Fora do Lugar é um projeto do presente e do futuro. Em parceria com a Arte das Musas, é hoje uma das principais referências de Idanha, enquanto Cidade Criativa da Música da UNESCO.
Fica o convite para participarem em mais uma edição do Fora do Lugar. Será certamente um festival a não perder!

Innovative rurality

Armindo Jacinto
Mayor of the Municipality of Idanha-a-Nova

‘The challenge is to reinvent the concept of place. Idanha is a stage that invites us to share new landscapes, where creativity, innovation and sustainability take on a social dimension.’ 

An event made up of encounters, of culture, of the intersection between ancestral legacies and the boldness of modernity. Fora do Lugar – Early Musics International Festival of presents itself to the world from the perspective of innovative rurality. Surroundings of the countryside and tradition in no way prevent a contemporary look at society; on the contrary, they propose new paths for artistic creation, in dialogue with local communities.
The challenge is to reinvent the concept of place. Idanha is a stage that invites us to share new landscapes, where creativity, innovation and sustainability take on a social dimension.
The most sublime concerts and cultural moments take place in settings such as churches, chapels, museums, mills, schools and in the middle natural environments, becoming truly unique experiences.
Fora do Lugar is a project for the present and for the future. In partnership with Arte das Musas, it is now one of Idanha's reference events as a UNESCO Creative City of Music.
We invite you to take part in another edition of Fora do Lugar. It is a festival not to be missed!

Conhecer cada lugar, cada recanto, cada história

Paulo Longo
Centro Cultural Raiano

"Essa história que temos de guardar e partilhar, sempre, com todos e para todos os que querem ouvir o que se passa/passou lá fora, nesta terra Fora do Lugar. Num perturbador instante de tempo, tão intenso como fugaz. Que corre caminhos, atravessa paredes, e nos atira ao alto, bem ao alto. "

O perfume da murta só se sente lá fora. Fora do lugar estamos todos, quando queremos senti-lo. Senti-lo é sair caminho afora e sentir Idanha. Fazer por conhecer cada lugar, cada recanto, cada história que pode ser contada de cada vez que nos juntamos, a cada ano que passa. E já vão doze. Doze anos de olhos bem abertos, à procura das histórias, das vozes, dos sons, dos cheiros e do gosto que esta terra tem. Esta terra que é o lugar mais bonito do Mundo. Ou, pelo menos, assim o ouvimos a cada ano, pelo menos uma vez, na boca de alguém.
Por isso, estar Fora do Lugar é tão importante. Tão precioso. A cada volta que damos, em cada ano que nos juntamos, sempre pelo mesmo motivo encontramos a mesma coisa diferente. O lugar que sai de si e recebe o mundo nos seus braços, braços que se abrem para receber, para aconchegar, para partilhar. Este mundo e o outro. Os que estão e os que já nos deixaram. Sim, as partidas também contam. Têm de contar, porque fazem parte da história. Essa história que temos de guardar e partilhar, sempre, com todos e para todos os que querem ouvir o que se passa/passou lá fora, nesta terra Fora do Lugar. Num perturbador instante de tempo, tão intenso como fugaz. Que corre caminhos, atravessa paredes, e nos atira ao alto, bem ao alto. Para nos deixar ver, para nos deixar ouvir, para nos deixar sentir, os milagres de que é capaz este pedaço de terra que se estende além das nuvens. E respirar, outra vez.
Porque o perfume da murta só se sente lá fora...

Getting to know every place, every corner, every story

Paulo Longo
Centro Cultural Raiano

‘That history we must keep alive and share with and for everyone who wants to hear what's happening out there, in this land so Fora do Lugar. In an instant of time that moves us, as intense as it is fleeting. It runs along paths, passes through walls, and raises us way up high.’  

The scent of myrtle can only be smelt outside. Fora do Lugar is where we want to feel it. And if we want to feel it, we set off to Idanha. Getting to know every place, every corner, every story that can be told every time we get together, every year that passes. And it's been twelve now. Twelve years with our eyes wide open, looking for the stories, the voices, the sounds, the smells and the flavours that this land has to offer. This land that is the most beautiful place in the world. Or so we hear every year, at least once, from someone.
That's why Fora do Lugar is so important. So precious. Every time we go round, every year we get together, always for the same reason. And we always find the same thing different. The place that rises up out of itself and welcomes the world into its arms, arms open to receive, to embrace, to share. This world and the next. Those who are here and those who have already left us. Because departures count too. They must, because they are part of history. That history we must keep alive and share with and for everyone who wants to hear what's happening out there, in this land so Fora do Lugar. In an instant of time that moves us, as intense as it is fleeting. It runs along paths, passes through walls, and raises us way up high. To let us see, to let us hear, to let us feel the miracles that this piece of land that stretches beyond the clouds is capable of. And to breathe, once more.
Because the scent of myrtle can only be smelt outside... 

Já somos crescidos

Filipe Faria
Director do Festival Fora do Lugar
Director da Arte das Musas

ʻEste lugar é imenso. Somos desculpa, não razão. Abrimos as portas porque temos as chaves. Esse é o nosso privilégio… porque já somos crescidos. Porque as chaves e fechaduras nos conhecem. Porque combinámos estar naquele lugar, àquela hora, com aquela pessoa. ʼ

Estamos aqui, neste lugar. Fazemos parte da paisagem. Ocupamos os espaços ao de leve mas estes ocupam-nos totalmente. Estamos presos ao chão. Os nossos pés são raízes que aprenderam a andar. Os olhos. Os olhos repousam no horizonte. Visitamos tudo ao mesmo tempo. O tempo, aliás, é indiferente. Sabemos onde devemos estar como sabemos quando acordar, sem avisos. Aqui, neste lugar, vivemos aqueles sonhos nos quais sobrevoamos, visitamos, cheiramos, ouvimos e tocamos tudo. Ou parece mesmo.
Já somos crescidos. Estamos todos juntos como se fosse possível isso acontecer em qualquer lugar. Caminhamos no mesmo sentido como se fosse natural. Sabemos que caminho escolher quando o caminho bifurca. E a seguir, também. Sentimos as mesmas coisas como se tivéssemos uma só pele. Temos desculpa. Estamos aqui, neste lugar.
Deixamos tudo. Despimos o que trouxemos. Apagamos as chatices. Podemos parar um bocadinho? Regressamos amanhã. E amanhã dizemos o mesmo. Temos este poder, o de adiar o tempo, o de viver agora. Já que cá estamos, ficamos.
Este lugar é imenso. Somos desculpa, não razão. Abrimos as portas porque temos as chaves. Esse é o nosso privilégio… porque já somos crescidos. Porque as chaves e fechaduras nos conhecem. Porque combinámos estar naquele lugar, àquela hora, com aquela pessoa.
Habitamos todos os tempos e todos os lugares. Habitamos o que era antigo, e que agora é novo. Vivemos espantados mesmo com o que já conhecemos. Seremos capazes de ficar? Estamos todos? Podemos começar?
Somos só uma desculpa. Experimentamos o lugar.
Já chegámos?

We're all grown up now

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

ʻThis place is immense. We're an excuse, not a reason. We open the doors because we have the keys. That's our privilege... because we're all grown up now. Because the keys and locks all know us. Because we agreed to be in that place, at that time, with that person.ʼ

We're here, in this place. We're part of the landscape. We occupy the spaces only slightly, but they occupy us entirely. We're attached to the ground. Our feet are roots that have learnt to walk. Our eyes. Our eyes are fixed on the horizon. We visit everything at once. Time, moreover, is indifferent. We know where we need to be just as we know when to wake up, without being told. Here, in this place, we live those dreams in which we soar high above, visit, smell, hear and touch everything. Or so it seems.
We're all grown up now. We're all together as if it could happen anywhere. We walk in the same direction as if it were natural. We know which way to go when there's a fork in the road. And to go down it, too. We feel the same things as if we shared one skin. We have an excuse. We're here, in this place.
We leave everything behind. We take off what we brought. We get rid of the nuisances. Can we stop for a moment? We'll come back tomorrow. And tomorrow we'll say the same. We have this power, to put time on hold, to live in the moment. As long as we're here, we'll stay.
This place is immense. We're an excuse, not a reason. We open the doors because we have the keys. That's our privilege... because we're all grown up now. Because the keys and locks all know us. Because we agreed to be in that place, at that time, with that person. We inhabit all times and all places. We inhabit what was old and is now new. We live in awe even of what we already know. Will we be able to stay? Are we all here? Can we begin?
We're just an excuse. We experience the place.
Are we there yet?

2022

O Retorno

Armindo Jacinto
Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova

‘Em Idanha-a-Nova, continuaremos a trilhar um caminho feito de legados, mas de rosto voltado para o futuro. Nestas terras, onde semeamos tradição e colhemos inovação, o Fora do Lugar encaixa na perfeição. A visão desempoeirada dos conceitos de lugar, tempo e cultura que caracteriza o festival propicia vivências únicas e memoráveis.’ 

Em 2022, o Fora do Lugar retorna ao ambiente de proximidade a que nos habituou. Após duas edições restringidas por tempos de pandemia, o regresso ao normal torna a 11ª edição ainda mais especial.
É uma edição que inicia a segunda década de festival. Um feito que importa sublinhar. O Fora do Lugar é hoje uma imagem de marca de Idanha e, cada vez mais, do país.
É um evento que questiona o conceito de lugar. Fá-lo com a sensibilidade de quem anda há mais de uma década a desvendar locais e histórias. Em cenários onde muitos não concebem que possa acontecer cultura.
Mas pode! Durante o Fora do Lugar, a ruralidade abre-se ao mundo com propostas musicais oriundas das mais diversas geografias.
É de projetos destes que gostamos em Idanha. Somos Cidade Criativa da Música, pela UNESCO, porque adoramos um bom desafio. Idanha vive ao ritmo da música: aposta em infraestruturas, investiga profundamente as suas tradições, acolhe um número raro e diversificado de grupos tradicionais promovendo, ao longo do ano, uma quantidade impressionante de eventos ligados à música.
O Fora do Lugar – Festival Internacional de Músicas Antigas, com o seu carácter simultaneamente abrangente e integrador tem contribuído decisivamente para a afirmação do mundo rural enquanto espaço criador, capaz de suscitar novas dinâmicas sem perder de vista as suas raízes.
Em Idanha-a-Nova, continuaremos a trilhar um caminho feito de legados, mas de rosto voltado para o futuro. Nestas terras, onde semeamos tradição e colhemos inovação, o Fora do Lugar encaixa na perfeição. A visão desempoeirada dos conceitos de lugar, tempo e cultura que caracteriza o festival propicia vivências únicas e memoráveis. Cada edição é uma experiência que não se esquece.
Um grande e sentido Bem Hajam! Continuem sempre Fora do Lugar!

The Return

Armindo Jacinto
Mayor of the Municipality of Idanha-a-Nova

‘In Idanha-a-Nova, we will continue to walk a path that emerges from our heritage, but with our eyes turned to the future. In these lands, where we sow tradition and reap innovation, Fora do Lugar is a perfect fit. The open vision of the concepts of place, time and culture that characterises the festival provides a world of unique and memorable experiences.’ 

In 2022, Fora do Lugar returns to the intimate atmosphere we had been accustomed to. After two editions restricted by the pandemic, this return to normality makes the 11th edition even more special. 
It is also an edition that marks the beginning of the festival's second decade. An achievement that should be celebrated. Fora do Lugar today is a brand image of Idanha and, increasingly, of our country. 
It is an event that questions the concept of place. It does so with the sensibility gained from unveiling places and stories for more than a decade, in settings where many people could not conceive that culture could take place. 
But it can! During Fora do Lugar, rurality opens up to the world with musical proposals from a wide range of places. 
We love projects like this in Idanha. We are a UNESCO Creative City of Music because we love a good challenge. Idanha lives to the rhythm of music: it invests in infrastructure, deeply investigates its traditions, hosts a rare and diverse number of traditional groups, and promotes an impressive number of music related events throughout the year.
With its simultaneously comprehensive and inclusive character, Fora do Lugar – International Festival of Early Music(s) has contributed decisively to the affirmation of the rural world as a creative space that is capable of cultivating new dynamics without losing sight of its roots.
In Idanha-a-Nova, we will continue to walk a path that emerges from our heritage, but with our eyes turned to the future. In these lands, where we sow tradition and reap innovation, Fora do Lugar is a perfect fit. The open vision of the concepts of place, time and culture that characterises the festival provides a world of unique and memorable experiences. Each edition is something not to be missed
Deep and heartfelt thanks to all! May you always continue Fora do Lugar!

A segunda década

Paulo Longo
Centro Cultural Raiano

‘No entanto, e no meio de tudo isto, algo notável aconteceu: a cultura – e a música em particular – conseguiu trazer alguma serenidade. Onde foi possível, a sua constância foi essencial para nos guiar, confortar e ajudar a lidar com um quotidiano drasticamente alterado e transtornador.’  

Eis onde entra o Fora do Lugar.
Uma passagem que assinala o regresso a uma nova normalidade. E que normalidade é esta?
A possível, depois de dois anos de dúvidas, constrangimentos, receios e desafios. Dois anos onde fora do lugar foi um estado “normal”.
Hoje voltamos a estar juntos. Fisicamente no mesmo espaço, mas onde está o nosso espírito? Como conseguiu superar a tensão e os receios a que esteve sujeito? A sua descoberta é o legado desta passagem que, de uma forma ou de outra, nos atingiu a todos. Gostaria de poder afirmar, com segurança, que o pior já passou, mas tal não é possível. O novo horizonte traz consigo outros males, outros receios. Como sempre faz. Depois da tempestade, vem a bonança. E depois da bonança, regressa a tempestade
No entanto, e no meio de tudo isto, algo notável aconteceu: a cultura – e a música em particular – conseguiu trazer alguma serenidade. Onde foi possível, a sua constância foi essencial para nos guiar, confortar e ajudar a lidar com um quotidiano drasticamente alterado e transtornador.  
Insuficientemente visível e compreendida, não deixou por isso de mostrar o seu empenho, graças às mãos de todos aqueles que arregaçaram as mangas e deram o corpo ao manifesto, não se deixando abater pela adversidade. Muitos foram os que cuidaram dos nossos corpos, de uma forma inestimável, é certo.
Mas foram estas que tentaram cuidar das nossas almas. O Fora do Lugar está no meio deles. Esperemos que assim continue, por mais uma década. 

The second decade

Paulo Longo
Centro Cultural Raiano

‘However, in the midst of all this, something remarkable happened: culture – and music in particular – managed to bring some serenity. Where possible, its constancy was essential in guiding us, comforting us, and helping us to deal with a drastically altered and disturbing everyday.’  

That is where Fora do Lugar comes in.
A transition that signals the return to a new normality. And what normality is that? The possible, after two years of doubts, limitations, fears and challenges. Two years where out of place was a ‘normal’ state.
Today we come together again. Physically in the same space, but where is our spirit? How did it manage to overcome the tension and fears to which it was subjected? Its discovery is the legacy of this transition which, in one way or another, has affected all of us. I would like to be able to say, with absolute certainty, that the worst is over, but this is not possible. The new horizon brings with it other evils, other fears. As it always does. After the storm comes a calm. And after the calm, the storm returns.
However, in the midst of all this, something remarkable happened: culture – and music in particular – managed to bring some serenity. Where possible, its constancy was essential in guiding us, comforting us, and helping us to deal with a drastically altered and disturbing everyday.  
Insufficiently visible and understood, it nevertheless continued to demonstrate its commitment, thanks to the hands of all those who rolled up their sleeves and gave their bodies to the cause, not letting themselves be overcome by adversity. Many were those who looked after our bodies, invaluably, of course.
But these were the ones who tried to look after our souls. Fora do Lugar is among them. We hope that this will continue, for another decade. 

Regresso ao futuro

Filipe Faria
Director do Festival Fora do Lugar
Director da Arte das Musas

ʻConstruímos, juntos, novos caminhos, aproveitamos os que já cá estavam, alimentamos os pulmões, os olhos, os ouvidos, sentimos na pele o vento, o calor, o frio e a chuva… Seguimos esses caminhos, todos os caminhos, e estamos aqui.ʼ

Este é o ano do regresso ao futuro. Depois de tanto tempo em suspensão, a ver os nossos lugares (e os dos outros) pela janela, voltámos. Nestes anos não chegámos a habitar realmente as coisas. Ou parecia mesmo que não. Experimentámos menos. Sonhámos que sim, acordámos no mesmo lugar. Vimos todos os nossos lugares através das janelas, por vezes conseguimos ouvir, por vezes mesmo falar… mas, tantas vezes, o lugar onde estávamos não era o lugar onde queríamos estar. Não foi mau, mas agora já chega. Chegámos muito longe, mas queremos voltar a estar perto. Regressamos, hoje, ao futuro. Ao que teria sido caso não estivéssemos este tempo – tanto tempo – em suspensão. Começamos, hoje, uma nova etapa, a da segunda década, aqui, em Idanha-a-Nova – o lugar mais bonito do mundo –, juntos… e queremos provar, mais do que nunca, que estar fora do lugar é o melhor lugar para estar.
Seremos novamente som, imagem, cheiro, sabor e toque... Esta é a nossa cara, a deste território que está cá desde sempre, muito antes de nos lembrarmos que existimos, muito antes dos nossos avós… Está cá desde sempre e nós temos a sorte de o habitar… Construímos, juntos, novos caminhos, aproveitamos os que já cá estavam, alimentamos os pulmões, os olhos, os ouvidos, sentimos na pele o vento, o calor, o frio e a chuva… Seguimos esses caminhos, todos os caminhos, e estamos aqui. E voltamos a fazer tudo outra vez… igualzinho ou escolhendo um caminho diferente desta vez.
O desafio está lançado… Sons de vozes e instrumentos chamam-nos vindos de muitos lugares: “Vinde às terras de Idanha, que até as silvas dão rosas”. Estaremos, todos, aqui.

Back to the future

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

ʻTogether we forge new paths, taking advantage of those that were already here, we feed our lungs, our eyes, our ears, we feel the wind, the heat, the cold and the rain on our skin… We follow those paths, all the paths, and here we are.ʼ

This is the year of the return to the future. After so long in abeyance, watching our places (and those of others) out of a window, we have returned. During those years we didn’t get to truly experience things. Or it seemed like we didn’t. We experimented less. We dreamt that we did, then we woke up in the same place. We saw all our places through windows, sometimes we could hear, sometimes even speak... but so often the place we were in was not the place where we wanted to be. It wasn’t bad, but enough is enough now. We’ve come a long way, but we want to be close again. Today we return to the future. To what would have been had we not been this long – so long – in abeyance. Today we begin a new phase, the second decade, here, in Idanha-a-Nova – the most beautiful place in the world – together... and we want to prove, more than ever, that being out of place is the best place to be.
Once again we will be sound, image, smell, taste and touch... This is our face, the face of this land that has always been here, long before we remember existing, long before our grandparents… It has always been here and we are lucky enough to inhabit it… Together we forge new paths, taking advantage of those that were already here, we feed our lungs, our eyes, our ears, we feel the wind, the heat, the cold and the rain on our skin… We follow those paths, all the paths, and here we are. And we do it all over again… just the same or choosing a different path this time.
The challenge is on… Sounds of voices and instruments call to us from many a place: “Come to the lands of Idanha, where even the brambles bear roses". Here is where we’ll all be.

2021

A décima

Armindo Jacinto
Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova
\Cidade Criativa da Música UNESCO

Uma soma extensa, feita de experiências e de encontros assinala em 2021, o retorno possível ao processo de descoberta contínua a que o Fora do Lugar nos habituou. Um regresso ponderado ao ambiente de partilha e proximidade, anterior ao evento pandémico que tanto afectou a vida de todos nós.
Contudo, não é apenas o cardinal e o retorno que tornam especial a presente edição do Fora do Lugar. 2021 é, orgulhosamente, “ un affaire de femmes” no melhor sentido. A décima no feminino. Um horizonte à vista que chega, agora, a bom porto. 
Como Portugal, Idanha “é uma mulher de múltiplas belezas. Usa o seu território como um guarda-jóias, onde se guardam segredos, os mais incríveis mistérios por desvendar, escondidos na sua própria natureza. Parecem sítios longínquos, onde o tempo se esqueceu de passar e essa natureza se preservou intacta, em harmonia elementar. São como abrigos da Humanidade, que se fingem longe, estando tão perto. É preciso usar a lógica da viagem, para os encontrar. E a lógica da razão, para lá ficar. Idanha-a-Nova fez do seu imenso território um desses abrigos, um exemplo único de algo que renasce como nasceu, algo em movimento, no seu devido lugar. Usou a sua cultura sem réplica e o vasto património de natureza, para preservar as suas jóias em habitat natural. O Geopark Naturtejo, Geoparque Mundial da UNESCO, o Parque Natural do Tejo Internacional, também consagrado pela UNESCO como Reserva da Bioesfera, as cristas quartzíticas de Penha Garcia e o seu Parque Iconológico, as camadas de História que residem em Idanha-a-Velha, a imponência granítica de Monsanto na arquitectura da erosão, as mil coisas que se descobrem na imensidão e nos detalhes. Aprendeu a entregar-se ao mundo, transformando-se num dos seus melhores destinos. É uma história de amor próprio, que aguarda correspondência. Como um postal, desejoso de voltar a casa”. 
Assim o disse Luís Pedro Cabral, quando Idanha representou o país no Natal de Estrasburgo, cinco anos a esta parte. E que bem o disse. Nem de propósito, para o lugar mais bonito do Mundo, a fazer fé nas palavras de Filipe Faria. 
Um grande e sentido Bem Hajam, por continuarem tão Fora.

The tenth

Armindo Jacinto
President of the Idanha-a-Nova Municipal Council

In 2021, this significant total, formed of experiences and encounters, marks the hoped-for return to the process of continual discovery to which we have become accustomed with Fora do Lugar. A return that was planned in a context of sharing and closeness, prior to the pandemic that affected all our lives.
However, it is not just the cardinal number and this comeback that make this edition of Fora do Lugar so special. 2021 is proud to be ‘un affair de femmes,’ in the best sense of the phrase. An all-female tenth. What was a glimpse on the horizon has now come in to port.
Like Portugal, Idanha ‘is ‘a woman of many beauties.’ It uses its lands like a jewellery box, where secrets are kept, the most incredible mysteries to be unravelled, hidden in its own nature. These seem like remote places, where time has forgotten to pass and where that nature remains untouched, in elementary harmony. They are like havens for humankind, seeming remote when they are in fact close by. We must use the logic of travel to find them. And the logic of reason to stay. The vast territory of Idanha-a-Nova is one of these havens, a unique example of something that is reborn the way it was born, something moving, in its rightful place. It has used its matchless culture and extensive natural heritage to preserve its jewels in their natural habitat. Naturtejo Geopark, the UNESCO Global Geopark, Tejo International Natural Park, also designated a Biosphere Reserve by UNESCO, the quartzite ridges of Penha Garcia and its Iconological Park, the layers of history to be explored in Idanha-a-Velha, the granite magnificence of Monsanto with its architecture-erosion, the thousand things to be discovered in the immensity and in the details. This area has learnt to give itself to the world, becoming a destination of choice. It is a story of self-love, awaiting correspondence. Like a postcard, longing to return home.’
These were the words of Luís Pedro Cabral, when Idanha represented Portugal at Strasbourg’s Christmas, five years ago. And he expressed it so well. An echo of the words of Filipe Faria describing it as the most beautiful place in the world.
A heartfelt thank you, for continuing to be Fora do Lugar.

O número 10 deve ser comemorado

Filipe Faria
Director do Festival Fora do Lugar
Director da Arte das Musas

O número 10 deve ser comemorado. É assim que se faz, sempre ouvi dizer. Na realidade, este é o primeiro número de dois algarismos que encontramos pelo caminho... Acrescentaremos o terceiro daqui a 90 anos e já fizemos as malas...
Como sempre, no número 10 seremos som, imagem, cheiro, sabor e toque... Este foi sempre o desafio Fora do Lugar... uma espécie de disponibilidade invulgar, alimentada por este território e pelas suas paragens... pelo tempo e pela forma com que comunicamos com o que nos rodeia e com os encontros que despertamos... aqueles que procurámos ou aqueles que nos procuraram... O espanto como necessidade básica, o espanto como respiração...
O número 10 é uma proposta de transições... Entre os modelos antigos, pré-pandémicos, reais e reconhecíveis, os modelos de passagem, de distância e mediação que vivemos nestes anos e os de recuperação do que nos faz mais falta... o encontro, real e tangível...
É, também, uma proposta de olhar... olhar o mundo e a criatividade humana a partir do feminino... integralmente dedicada ao feminino sonoro... e em português... como afirmação estética...
Som, imagem, cheiro, sabor e toque... à distância ou em pessoa... reais ou irreais...
Viajamos em embaixada... A par dos filmes sonoros, viajaremos para encontros presenciais pelas aldeias deste território. Seremos guiados por uma embaixadora que, ao mesmo tempo, abre as portas dos modelos futuros e recorda o passado recente. Com ela viaja uma concertina e uma voz e viajam os filmes que chegam a todo o mundo ao mesmo tempo... Ao mesmo tempo ao 10º andar de um arranha-céus em Tóquio e ao lugar mais fora do lugar... todos com pessoas lá dentro e tudo...
O número 10, é também, comemorado com o Ciclo 10 — 10 Anos Fora do Lugar — que antecipa o programa principal... Durante 10 dias comemoramos a nossa primeira década com 10 pequenos filmes — 1 por dia — filmados nas terras mágicas de Idanha-a-Nova, em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian e com a participação do Coro Gulbenkian, também no feminino.
Entramos, agora, no número 10... para ouvirmos desafios de encontro musical entre vozes, mãos, dedos no feminino, alguns encontros que não existiam... alguns encomendados, especialmente, para virem para Fora do Lugar, ao "lugar mais bonito do mundo", Idanha-a-Nova.
Connosco viajam os dedos sensíveis da Joana Gama, a voz, a harpa e o cravo delicados da Ana Vieira Leite e da Maria Bayley, a concertina voadora da Eva Parmenter, o surpreendente encontro entre a viola e o violoncelo barrocos da Raquel Massadas e da Diana Vinagre, a dança e a viola da gamba que contam histórias da Catarina Costa e Silva e da Filipa Meneses e o traverso e a harpa que escrevem poesia da Joana Amorim e da Rebeca Amorim Csalog.
Som, imagem, cheiro, sabor e toque... na rua, em casa, com frio ou com calor, à distância ou em proximidade, a plantar árvores ou a cuidar delas, a ver aves ou a cuidar delas... para todas as idades ou apenas para a sua... a cozinhar ou a comer, a ver dançar ou a dançar... são estas e tantas outras as propostas a descobrir nas próximas semanas... e é tão bom estar fora do lugar...
O número 10 deve ser comemorado. É assim que se faz, sempre ouvi dizer.

Number 10 should be celebrated

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

Number 10 should be celebrated. And this is how it’s done, so I’ve always heard. In fact, this is the first two-digit number we meet along the way... We’ll add the third digit in 90 years time and we’ve already packed our bags...
As always, number 10 will be full of sound, image, smell, taste and touch... This has always been the challenge of Fora do Lugar... an unusual kind of readiness, nourished by this land and its locations... nourished by time, the way we communicate with our surroundings and the encounters we bring about... by those we seek and those that seek us... Wonder as a basic need, wonder as our very breath...
Number 10 is a proposal for transition... From the old, pre-pandemic models, real and recognisable, through the models of passage, of distance and mediation that we have all experienced during these years and towards the ones with which to recover what is lacking in our lives... encounters, real and tangible...
It is also a proposal for looking... for looking at the world and at human creativity from a female perspective... wholly dedicated to female sounds... and in Portuguese... as an aesthetic affirmation...
Sound, image, smell, taste and touch... at a distance or in person... real or unreal...
We’re embarking on a mission... Alongside sound films, we will travel to in-person encounters in the villages of this territory. We will be guided by an ambassador who, at the same time, opens the doors to future models and recalls the recent past. She travels with a concertina and a voice, as well as the films, reaching everyone at the same time... Reaching, at the same time, the 10th floor of a skyscraper in Tokyo and the most far-flung location... all of them with people inside and everything...
Number 10 is also commemorated with a cycle of 10 – 10 Years of Fora do Lugar – with which we introduce the main programme... Over 10 days, we'll celebrate our first decade with 10 short films – 1 a day – shot in the magical lands of Idanha-a-Nova, in partnership with the Calouste Gulbenkian Foundation and with the participation of the Gulbenkian Choir, also as a feminine expression.
Let us then embark on number 10... to listen to the challenges of the musical encounter between female voices, hands and fingers, some encounters that have never happened before... some specially commissioned to come to Fora do Lugar, to the ‘most beautiful place in the world,’ Idanha-a-Nova.
Travelling with us are the sensitive fingers of Joana Gama, the delicate voice, harp and harpischord of Ana Vieira Leite and Maria Bayley, the soaring concertina of Eva Parmenter, the surprising encounter between the baroque viola and cello at the hands of Raquel Massadas and Diana Vinagre, the stories told through dance and viola da gamba performed by Catarina Costa e Silva and Filipa Meneses, and the poetry created with the traverso and harp of Joana Amorim and Rebeca Amorim Csalog.
Sound, image, smell, taste and touch... in the street, at home, come rain or shine, from a distance or up close, planting trees or caring for them, watching birds or protecting them... for all ages or just for yours... cooking or eating, watching dance or dancing... these are just some of the many offerings waiting to be discovered over the next few weeks... and it feels so good to be ‘fora do lugar’...
Number 10 should be celebrated. And this is how it’s done, so I’ve always heard.

2020

Um território que se reinventa e persiste

Armindo Jacinto
Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova
\Cidade Criativa da Música UNESCO

Em 2020, o Fora do Lugar - Festival Internacional de Músicas Antigas vê-se obrigado a inaugurar novos espaços de diálogo com o território de Idanha-a-Nova e com o público que, fielmente, acompanha um dos projetos culturais mais inovadores do país.
Num ano tão atípico, a 9ª edição do Fora do Lugar também se preparou para responder à incerteza dos tempos. O programa de 2020 combina assim uma oferta presencial e online, mas a proposta é a de sempre: afirmar o meio rural como espaço criador e aberto ao mundo, habitar os lugares mais admiráveis de Idanha-a-Nova - Cidade Criativa da Música da UNESCO com música, passeios, histórias, oficinas, cinema e gastronomia.
Ao longo dos anos, a ligação entre a dimensão global da música e a experiência peculiar do lugar tornou o Fora do Lugar especial, ousado e inovador. Este ano voltaremos a revelar um território que se reinventa e persiste em trilhar um caminho feito de legados, mas de rosto voltado para o futuro.
Resultado da parceria entre a Arte das Musas e o Município de Idanha-a-Nova, e com o apoio do Ministério da Cultura e da Direcção-Geral das Artes, o Fora do Lugar 2020 redesenhou as suas paisagens, os afectos e proximidades, mas mantém o seu olhar singular sobre a música e o mundo.

A territory that reinvents itself and lives on

Armindo Jacinto
President of the Idanha-a-Nova Municipal Council
\UNESCO Creative City of Music

In 2020, the Fora do Lugar – International Festival of Early Music has been forced to open new spaces to inspire dialogue with the territory of Idanha-a-Nova and with the public that has faithfully followed one of the most innovative cultural projects in the country.  In such an atypical year, the 9th edition of Fora do Lugar has also been prepared to respond to the uncertain times facing us all. While the 2020 programme combines face-to-face events with a component offered online, the proposal is the same as always: to establish the rural world as a creative space that is open to all, and to fill the most remarkable spaces in Idanha-a-Nova – UNESCO's Creative City of Music – with music, tours, stories, workshops, cinema and gastronomy.  Over the years, the connection between the global dimension of music and the particular experience of our territory has turned Fora do Lugar into the special, bold and innovative event it is today. This year we will once again showcase a territory that perpetually reinvents itself and lives on, following a path built on legacies past but with our eyes set on the future.  The result of a partnership between Arte das Musas and the Municipality of Idanha-a-Nova, and with the support of the Ministry of Culture and the Directorate-General for the Arts, Fora do Lugar 2020 has redesigned landscapes, affection and kinship with the same unique perspective of music and the world as always.

Hoje pode não ser verdade amanhã

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

Os dias que vivemos são dias estranhos, impossíveis de prever. O que é verdade hoje pode não ser verdade amanhã. Se é tão importante voltarmos ao normal - ou a um novo normal - é, igualmente, importante que o façamos em segurança.
Foi sobre estas premissas que desenhámos a 9ª edição do Fora do Lugar - Festival Internacional de Músicas Antigas 2020 - uma edição atípica para tempos atípicos, com apoio numa rede de parcerias que promove, há muitos anos, um trabalho de desenvolvimento territorial no “lugar mais bonito do mundo”, Idanha-a-Nova - Cidade Criativa da Música da UNESCO. 
Este trabalho é mais extenso, chega ao tecido artístico e procura promover - a partir de um território rural, interior e raiano -, uma visão da cultura ligada, de modo umbilical, à experiência do território.
A programação é, hoje em dia, uma aventura delicada. O que é verdade hoje pode não ser amanhã... são tantas as variáveis e estas mudam com tanta rapidez e frequência que trabalhamos sobre uma rede que teima em desviar-se.
Foram muitos os cenários tentando prever todas as eventualidades e o seu efeito no nosso Festival e no seu papel charneira de desenvolvimento territorial na região de Idanha-a-Nova.
Apesar de pequenos, quisemos assumir um exemplo de regresso à normalidade - ou a um novo normal ainda em construção -, contribuindo para que o tecido cultural e artístico recupere do tsunami que brutalmente o afectou. Redesenhámos integralmente a programação 2020 e recebemos, agora, músicos portugueses (ou residentes em Portugal) para mais uma programação tão irreverente como surpreendente... Esperamos ter dado passos no melhor sentido.
Tendo em conta os dias que vivemos e a evolução da situação sanitária no país e no mundo a parceria Fora do Lugar - Arte das Musas, Município de Idanha-a-Nova e Ministério da Cultura/Direcção-Geral das Artes - decidiu converter 2020 numa edição híbrida, com parte da oferta "em casa" (online) e parte "no lugar" (presencial). 
São múltiplas as razões (calendário, meteorologia, demografia, lugar, cruzamento, públicos...) que levaram a esta decisão... Para o território e para a parceria, apesar do enorme trabalho e esforço de adaptação que as circunstâncias implicam, ficamos felizes que tenha sido possível manter, integralmente, embora adaptado, este projecto charneira e que seja possível fazer acontecer novamente - a partir do mundo rural - uma proposta com esta assinatura, num território UNESCO. 
É tão bom voltar a estar Fora do Lugar, a partir do lugar mais bonito do mundo!

Today may not be true tomorrow

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

We live in strange and unpredictable times. What is true today may not be true tomorrow. While it is important we go back to normality – or at least to what some have suggested is the "new" normal – it is equally important that we do so safely. We have designed the 9th edition of Fora do Lugar – International Festival of Early Music 2020 with this in mind: an atypical edition of our festival for atypical times, with the support of the same partner network that, for several years now, has promoted the territorial development of the "most beautiful place in the world", Idanha-a-Nova - UNESCO's Creative Music City. The work resulting from this mission is extensive, conditions our region's artistic fabric and promotes a vision of culture with an umbilical connection to the experience of our interior, rural and border territory. Programming in today's world is a delicate task. What is true today may not be true tomorrow. With so many variables changing so often and so quickly, working in a shifting and unpredictable environment, we tried to foresee and weigh up many different scenarios and assess how they could affect our festival and its pivotal role in the territorial development of the region of Idanha-a-Nova. Above all, we sought to offer a small but real example of a return to normality – or at least to the "new" normal currently under construction – so as to contribute to the recovery of a cultural and artistic community that has been brutally affected by this tsunami of disruption. We completely redesigned the 2020 festival to exclusively host musicians from Portugal (or musicians residing here) for a programme that is as irreverent as it is surprising. We hope we have taken steps in the best possible direction. Taking into account the current health situation in the country and the world, the Fora do Lugar partnership, made up of Arte das Musas, the Municipal Council of Idanha-a-Nova, and the Ministry of Culture/Directorate-General of Arts, has decided to make 2020 a hybrid festival with part of our events offered "at home" (online) and another part "in person". Multiple factors relating to dates, weather, demographics, place, exchanges and audiences have led to this decision. For the region and the partnership, despite the enormous amount of work involved in adapting to the circumstances, we are delighted to be able to offer another complete edition of this pivotal festival from the rural heart of our UNESCO world heritage territory. It is so good to be at Fora do Lugar again – here in the most beautiful place in the world!

2019

Um reflexo singularmente brilhante

Armindo Jacinto
Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova
\Cidade Criativa da Música UNESCO

Por terras de Idanha, tempo e espaço oscilam de 22 de novembro a 7 de dezembro. Ao longo dos dias, reescrevem-se conceitos e descobrem-se locais e histórias no "lugar mais bonito do mundo". Cada olhar renovado descobre um inesperado mundo rural, onde a cultura floresce a cada dia que passa. A música dá o mote, num evento que vai mais além e se converte numa experiência única do lugar. É o sabor da terra, uma terra que se revela, se reinventa e persiste em trilhar um caminho feito de legados, mas de rosto voltado para o futuro. Certamente por isso, na cumplicidade de uma identidade partilhada, Idanha-a-Nova e o Fora do Lugar se entendem tão bem. A partilha é um princípio orientador de Idanha, mais ainda enquanto Cidade Criativa da UNESCO na Música, onde a criatividade, a inovação, a sustentabilidade e a participação social assumem uma dimensão global. Os nossos objectivos e preocupações não são apenas nossos, mas de todos. E, neste ponto, o Fora do Lugar é um reflexo singularmente brilhante, espécie de feixe orientador, que leva Idanha pelo mundo, estimulando um olhar atento sobre o papel crucial a desempenhar pela ruralidade nos dias de hoje. E hoje, como ontem, o desafio está lançado. As terras de Idanha convidam todos à sua (re)descoberta através da lente especial do Fora do Lugar que, no fim de contas, é também a sua. O prazer da vinda é mútuo. Bem hajam!

A singularly brilliant reflection

Armindo Jacinto
Mayor of Idanha-a-Nova Municipality
\UNESCO Creative City of Music

The lands of Idanha fluctuate between space and time from 22 November until 7 December. During those days, concepts are rewritten and places and stories are rediscovered in the ‘most beautiful place in the world.’ Each new gaze discovers an unexpected rural world, where culture flourishes with each day that passes. Music sets the tone in an event that reaches further and becomes a unique experience of the place. It is a taste of the land, a land that reveals itself, reinvents itself and persists in treading a path made of legacies, but with its face turned to the future. This is surely the reason why, in the complicity of a shared identity, Idanha-a-Nova and the Fora do Lugar festival fit so well together. Sharing is one of Idanha’s guiding principles, even more so as UNESCO Creative City of Music, where creativity, innovation, sustainability and social participation take on a global dimension. Our goals and concerns are not just ours, but belong to everyone. And, in this regard, Fora do Lugar is a singularly brilliant reflection, a kind of guiding ray of light that takes Idanha into the world, encouraging a close look at the crucial role to be played nowadays by the rural environment. And today, as yesterday, the challenge is set. The region invites everyone to its (re)discovery through the special lens of Fora do Lugar, which, after all, also belongs to Idanha. The pleasure of your arrival is mutual. Welcome!

A cada momento e num ritmo lento

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

Esta é a porta número oito e está aberta. Avançamos, passamos a porta e... entramos. Sentimos o vento no rosto, o frio na testa e o corpo quente. Estamos em vários lugares ao mesmo tempo, em todos os lugares. Estes são lugares vivos nos quais tudo mexe ou tudo pára à nossa medida, adivinhando o que queremos muito antes de o sabermos. A cada momento vamos descobrindo novos e antigos lugares mas também o nosso lugar neles. A cada momento e num ritmo lento, com uma irreconhecível cadência... lenta e estável. Sons espontâneos vindos de todo o lado mas silêncios esperados também. Paisagens de som românticas mas de um romantismo traído, tremendamente comovedor. Traído pela noção esmagadora de que é tudo tão real, tão palpável, tão só para nós... um romantismo traído pela realidade, pela saudade indescritível do que mal conhecemos. A convicção absoluta de que tudo aquilo é exclusivamente nosso, preparado com todo o tempo só para nós. A absoluta certeza de que só nós vimos aquela luz, sentimos aqueles pingos na face, ouvimos aquele vento ou aquele trovão ou aquele canto feminino ou aquele toque da pele quente na pele que vibra ou aquele fruto maduro nas nossas mãos ou aquela vontade de o provar. A realidade impõe-se, vinda de cima, debaixo, dos lados, de dimensões diferentes com uma urgência pungente, obrigatória, inevitável... Entrámos agora mesmo... passaram apenas uns segundos... e são todos bem vindos... A porta número 8 está aberta e todos podem entrar.

At every moment and with a gentle rhythm

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

This is door number eight and it stands open. We step forward, through the door and... we enter. We feel the wind on our faces, the cold against our brows, our bodies warm. We are in several places at the same time, in all places. These are the living places in which everything moves or everything stops as we see fit, anticipating what we want long before we even know it. At every moment we are discovering new and ancient places, but also our place in them. At every moment and with a gentle rhythm, with an unrecognisable cadence... slow and steady. Spontaneous sounds coming from everywhere but coveted silences too. Landscapes with a romantic sound, but of a betrayed romanticism that is extremely touching. Betrayed by the overwhelming notion that it is all so real, so palpable, for us alone...a romanticism betrayed by reality, by the indescribable nostalgia for what we barely know. The absolute conviction that all this is exclusively ours, prepared unhurriedly over time, just for us. The complete certainty that we were the only ones who saw that light, who felt those drops on our faces, who heard that wind or that thunderclap or that female voice singing or who felt that touch of warm skin on the vibrating drum skin or that mature fruit in our hands or that desire to try it. Reality imposes itself, coming from above, from below, from the sides, from different dimensions with an urgency that is pungent, obligatory, inevitable... Now we enter... it has only been a few seconds... and everyone is welcome... Door number 8 is open and we can all go in.

2018

Habitar novas paisagens e afetos

Armindo Jacinto
Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova
\Cidade Criativa da Música UNESCO

Mais um ano “Fora do Lugar”. É com muito orgulho que o concelho de Idanha-a-Nova volta a receber o Festival Internacional de Músicas Antigas. De 23 de novembro a 8 de dezembro, por terras de Idanha o antigo renova-se e o novo surge! Durante este evento, a cultura visita lugares inesperados e nobres do nosso território. O meio rural abre-se ao mundo para desvendar sonoridades que nos chegam dos mais variados pontos do Globo. Para além da música, o Fora do Lugar convida-nos a habitar novas paisagens e afetos, cultiva proximidades e revela experiências singulares. Idanha, Cidade Criativa da UNESCO na área da Música, afirma--se como destino de criatividade e sustentabilidade, aliando propostas culturais e inovadoras a novas vivências sociais e comunitárias. Estimula a partilha de valores entre cada um de nós e o património natural e histórico--cultural que nos rodeia. São 365 dias repletos de animação, cultura e descobertas que, a cada ano que passa, conquistam o coração dos Idanhenses, dos turistas e visitantes. O convite está feito! O mapa da música desafia a uma viagem por estas terras raianas. Aqui há lugar para Todos! Bem hajam!

New landscapes and emotions

Armindo Jacinto
Mayor of Idanha-a-Nova Municipality
\UNESCO Creative City of Music

Another year “Out of Place”*. It is with great pride that the municipality of Idanha-a-Nova again hosts the Early Music(s) International Festival. From 23 November to 8 December, across the lands of Idanha, that which is old will be renewed and that which is new will flourish! This event sees a world of culture coming into contact with the many noble and extraordinary locations of our county. Our rural home opens its doors to the world and reveals sounds from the farthest reaches of the globe. In addition to music, Fora do Lugar invites us to encounter new landscapes and emotions, bringing us closer together and revealing unique experiences. A UNESCO Creative City of Music, Idanha puts itself on the map as a creative and sustainable destination by combining cultural and innovative proposals with new social and community experiences. It stimulates the sharing of values between all participants and the natural, historical and cultural heritage surrounding us. 365 days of entertainment, culture and discoveries that, with every passing year, further wins the hearts of the people of Idanha, tourists and visitors. You are hereby invited on a journey through these border lands with music as your guide! There is room for everyone! Many thanks and welcome!

Aqui, tudo está vivo

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

Chegámos ao número 7. Um número cheio de simbolismos em tantos tempos e paragens. Um número a partir do qual já podemos olhar para trás com uma boa dose de orgulho e para a frente com a ideia de que podemos ainda fazer tanto. Foi possível, há 7 anos, pensar um projecto a partir do mundo rural e inspirado por ele, um projecto que fosse, também ele, a marca de um território, que afirmasse uma ideia essencial: a de que no mundo rural a terra é tão fértil que da terra nasce sempre algo a cada dia... algo que pode ser a promessa de um alimento ou a semente da imaginação e da criatividade, do engenho humano. As primeiras colheitas são logo supreendentes porque nascem com uma vontade profunda e incontrolável de respirar, bem como de água e de alimento. Já e agora. Sabemos que, aqui, tudo está vivo, tudo mexe com uma força e um poder primordiais que as cidades acabaram por cobrir com a espuma dos dias... Parece que nada é irrelevante, que tudo conta e tudo é alimento... para o corpo, para a mente ou para a alma... Estar fora do lugar é um experiência, um destino... fora do lugar que nos convida, diariamente, com promessas de mais luz, de mais som e de mais energia... como se isso bastasse. Não basta... pelo menos hoje, pelo menos para quem gosta de estar fora do lugar, num lugar que nos implica, ao qual não conseguimos ficar indiferentes... num lugar no qual nos dá gosto ser diferentes...

Here, everything lives

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

Here we are at number 7. A number rich in symbolism to so many people and places. A number from which we can look back with a good deal of pride, but also forward with so many hopes and plans for the future. Seven years ago, we were capable of imagining a project rooted and inspired in the rural world, a project that was also the mark of a territory which was the embodiment of an essential idea: that the fertile soil of the rural world gives birth to something new every day... something that may bring the promise of food or the seed of imagination, creativity and human ingenuity. We find such harvests astonishing because they are born with a deep and irrepressible will to breathe and be nurtured. Here and now. As we know, here, everything lives and stirs with a primordial power and force that cities obscure with the foam of the daze... Here nothing seems irrelevant, everything counts and everything is nourishing... for the body, for the mind, for the soul... Being ‘fora do lugar’, out of place, is an experience, a destination... the place that each day promises us more light, more sound, more energy... as if that were enough. It is not... at least not today, at least not for those who enjoy being out of place, in a place that intrigues and captivates, to which we cannot remain indifferent... a place where to be different matters..

2017

Esta é a  nossa mensagem para o mundo

Armindo Jacinto
Presidente do Município de Idanha-a-Nova
\Cidade Criativa da Música UNESCO

Idanha-a-Nova vive ao ritmo da música: aposta em infraestruturas, investiga profundamente as suas tradições, acolhe um número raro e diversificado de grupos tradicionais promovendo, ao longo do ano, uma quantidade impressionante de eventos ligados à música, desde a eletrónica mais moderna aos sons tradicionais, passando pelo registo erudito, num contexto de experiências extraordinariamente diversificado e transversal a todo o território. Entre os eventos dedicados à música que se realizam no concelho,  o Fora do Lugar - Festival Internacional de Músicas Antigas assume um especial relevo. O seu carácter simultaneamente abrangente e integrador tem contribuído decisivamente para a afirmação do mundo rural enquanto espaço criador, capaz de suscitar novas dinâmicas sem perder de vista as suas raízes.  A classificação da UNESCO é um reconhecimento e um estímulo, que irá reforçar a estratégia de desenvolvimento do concelho, estimulando a criação de riqueza e emprego e contribuindo para a fixação e captação de população.
Idanha-a-Nova afirma-se, assim, enquanto destino de excelência no âmbito das indústrias criativas e parceiro de exceção na troca de experiências e conhecimentos com várias cidades nacionais e internacionais, abrindo um precedente extraordinário ao consagrar o reconhecimento do valor das capacidades de desempenho  dos territórios rurais, de pequena dimensão/ baixa densidade, a uma escala global.  Aspirar a uma nova ruralidade passa inevitavelmente pela cultura e, no caso de Idanha-a-Nova, pela música em particular. Esta é a  nossa mensagem para o mundo e o Fora do Lugar – Festival Internacional de Músicas Antigas é um dos nossos melhores mensageiros. Esperamos que aqueles que a escutam sejam cada vez mais. A todos, o meu sincero bem haja!

This is our message to the world

Armindo Jacinto
Mayor of Idanha-a-Nova Municipality
\UNESCO Creative City of Music

Idanha-a-Nova lives to the rhythm of music: it invests in infrastructure, engages deeply with its own traditions and fosters a diverse number of unique traditional groups who, throughout the year, participate in an impressive range of musical events - ranging from modern electronic music to more traditional sounds or classical music - in the context of an extraordinary diversity of experiences that runs transversal to the entire territorial identity.
Among the events dedicated to music that take place in the area, the Fora do Lugar Early Music(s) International Festival is especially important. Its simultaneously comprehensive and inclusive character has contributed decisively to the reaffirmation of rural areas as spaces of creativity, capable of provoking new dynamics without losing sight of the roots. The UNESCO classification is both a recognition and a stimulus to reinforcing the development strategy of the territory, stimulating the creation of wealth and employment and contributing to attracting and retaining the local population. In this way, Idanha-a-Nova has established itself as a destination of excellence in the creative industries and an exceptional partner to various national and international cities in the exchange of experiences and knowledge, leading the way in demonstrating the value of small-scale/low-density rural areas on a global scale.
The aspiration to create a new type of rural environment must inevitably include culture and, in the case of Idanha-a-Nova, music in particular. This is our message to the world and the Fora do Lugar Early Music(s) International Festival is one of our best ways of communicating that. In the hope of attracting more and more listeners, to all, I offer a heartfelt welcome!

A criação não tem morada ou destino

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

A criação não tem morada ou destino. A criação dos bichos, como nós ou com mais ou menos patas, a criação dos nossos filhos ou das plantas de folhas e frutos pequenos ou gigantes… A criação não tem latitude ou longitude, coordenadas ou receitas. Algo existe agora no universo que não existia até aqui… estava cá tudo, mas isto não… Não tem morada porque existe num tecido de todos os tempos e lugares. Não tem destino porque não tem vontade. Acontece independentemente da cor, do espaço, da temperatura ou das estrelas… Acontece de propósito ou sem querer mas acontece mais nuns dias do que noutros… Acontece de dia ou de noite. Depende. A criação não tem morada mas há lugares mais rápidos e outros mais lentos… Depende. Nos lugares mais lentos, com mais espaço, ar e chão nasce, do nada em que já estava tudo, algo lento. Nos lugares mais rápidos, vistos como num comboio, nasce do nada em que já estava tudo, algo rápido. Ou então não. Ou então vice-versa. O que sabemos é que nalguns lugares o tempo suspende o tempo suficiente para criar… Às vezes é preciso muito, outras pouco… Criar do tudo um pouco de novo… A criação pode acontecer onde estamos a contar ou fora do lugar, onde menos esperamos… num lugar onde a criação dos bichos ou das plantas é tão comum como a dos sons, imagens ou movimentos… num lugar onde os rios podem ser cor-de-rosa e as árvores azul bebé, onde as casas são feitas de nuvens e as pedras ocas por dentro, onde os montes se sobem para baixo e descem para cima, onde a água corre para cima e para baixo (conforme) e o chão flutua, onde as pessoas e os bichos riem juntos à noite… num lugar que ferve e a partir do qual nascem árvores e voam aves à velocidade da luz…

Creation has no address or destination

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

Creation has no address or destination. The creation of beasts, like us or with more or fewer legs, the creation of our children or of plants with leaves and small or giant fruit… Creation has no latitude or longitude, coordinates or recipes. Something exists now in the universe that hasn’t existed until now… everything was here, but not that… It has no address because it exists in a fabric of all times and places. It has no destination because it has no will. It happens independently of colour, space, temperature or the stars… It happens on purpose or unintentionally but it happens more on some days than on others… It happens by day or by night. It depends. Creation has no address but there are faster places and there are slower places… It depends. In the slower places, with more space, air and ground, from the nothing in which everything already existed, something slow is born. In the faster places, seen as if from a train, from the nothing in which everything already existed, something fast is born. Or not. Or vice-versa. What we know is that in some places time suspends time long enough to create… At times a lot is needed, at others not so much… Creating a little bit of new from the whole … Creation can happen where we intend it to or out of place, where we least expect it… in a place where the creation of beasts or plants is as common as that of sounds, images or movements… in a place where the rivers can be pink and the trees baby blue, where the houses are made of clouds and the stones are hollow inside, where mountains are climbed downwards and descended upwards, where water flows upwards and downwards (depending) and the ground fluctuates, where people and beasts laugh together at night… in a boiling place where trees are born and birds fly at the speed of light… 

2016

Conceitos, práticas e territórios

Armindo Jacinto
Presidente do Município de Idanha-a-Nova
\Cidade Criativa da Música UNESCO

A dimensão patrimonial de Idanha tem, hoje, distinção mundial. Cidade Criativa da UNESCO, na área da Música, desde Dezembro de 2015. Reserva da Biosfera em 2016, ano que assinala 10 anos da criação do Geopark Naturtejo da Meseta Meridional, o primeiro geoparque em Portugal e a primeira classificação UNESCO da região. As três atribuições conferem a Idanha estatuto particular: é um território UNESCO, cruzando material e imaterial. É um orgulho para todos os idanhenses. E uma imensa responsabilidade. O reconhecimento do valor patrimonial não é um fim em si mesmo. É a validação de um percurso, num incentivo à continuidade das boas práticas que sustentam este reconhecimento. Nesta linha insere-se, também, o resultado do trabalho desenvolvido junto de várias instâncias europeias. Idanha-a-Nova tornou-se, em 2015, membro do Clube de Estrasburgo, um colectivo de cidades europeias que debatem e promovem o Projecto Europeu, tema candente nos dias de hoje. Estrasburgo é ainda o palco onde, através de Idanha, o nosso país estará representado no Mercado de Natal de 2016. Com cinco séculos de existência, a maior e mais antiga feira de natal europeia tem em 2016 Portugal como país convidado e, ao longo de um mês, a cultura e actividades produtivas de Idanha terão destaque em representação do país. Este ponto, aliás, reflecte um dos elementos chave da estratégia de desenvolvimento sustentável do município. O sector primário regista um crescimento muito significativo, devido aos projectos associados à Incubadora de Base Rural e à estratégia de valorização dos produtos locais em Portugal e no estrangeiro. Há um ano, o Fora do Lugar foi o palco de uma boa nova. Hoje, é novamente o palco onde celebramos o primeiro aniversário enquanto Cidade Criativa da Música pela UNESCO, cruzando conceitos, práticas e territórios que reflectem uma vocação integradora, visível à escala global. Nos nossos dias, a acção integrada dos vários sectores produtivos presentes no nosso território, com abordagens inovadoras e articuladas, faz cada vez mais sentido. É por esta via que queremos continuar, produzindo resultados mais eficazes e duradouros. A todos, o nosso sincero bem hajam!

Concepts, practices and territories

Armindo Jacinto
Mayor of Idanha-a-Nova Municipality
\UNESCO Creative City of Music

Idanha’s wealth of heritage is now appreciated worldwide. UNESCO Creative City in the field of music since December 2015. Biosphere Reserve in 2016, which also marks 10 years since the creation of Geopark Naturtejo da Meseta Meridional, the first Geopark in Portugal and the first UNESCO classification in the region. These three awards give Idanha a special status: it is a UNESCO territory, combining tangible and intangible heritages. It is a source of pride for all those who live here. And a huge responsibility. Recognition of its patrimonial value is not an end in itself. It is the validation of a path, an incentive to continue the good practices that sustain this recognition. This includes the results of the work carried out with various European authorities. In 2015, Idanha-a-Nova became a member of the Strasbourg Club, a collective of European cities that debates and promotes the European Project, a controversial topic nowadays. Strasbourg is also the stage where, through Idanha, our country will be represented at the 2016 Christmas Market. Five centuries old, the largest and oldest Christmas fair in Europe, Portugal will be its guest nation in 2016 and, for a month, Idanha’s culture and productive activities will be highlighted as part of the country’s representation. This point in fact reflects one of the key elements of the municipality’s sustainable development strategy. The primary sector is registering very significant growth, due to projects linked to the Rural Base Incubator and the strategy of promoting local products in Portugal and abroad. A year ago, the Fora do Lugar international early music festival was the stage for good news. Today, it is again the stage on which we celebrate the first anniversary as a UNESCO Creative City of Music, bringing together concepts, practices and territories that reflect a unifying mission with a global profile. These days, the integrated action of various productive sectors present in the region, with innovative and organised approaches, makes more and more sense. It is along this path that we wish to continue, producing more effective and long-lasting results. To everyone, our most heartfelt thanks!

Tudo junto, num só lugar, num só tempo

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

No quinto dia de viagem podemos parar. Parar para escutar. Para falar. Podemos parar para logo caminhar... ou parar por parar. Para ficar a olhar. Fechar os olhos e escutar. Estas terras são novas... a terra na minha mão cai para o chão da mesma cor, aquela pedra não estava ali... e esta árvore que me protege era tão pequena. Aqui temos memória daquilo que não vivemos. É a terra, à qual estamos irremediavelmente ligados... são os silvos do vento ou a água que cai do ar em gotas mais ou menos pesadas. O sol claro. O nevoeiro que esconde. O canto daquela ave. Não sei explicar mas estamos cá, na Idanha, como se sempre cá estivéssemos. Como se tivéssemos nascido sob aquela pedra grande que faz de abrigo a uma raposa quando chove. Somos irmãos do tempo e deste espaço que é diferente aqui do que em qualquer outro lado do mundo... Tudo passa. Serenamente. E nós passamos por tudo. Lembramo-nos, como se fosse hoje, daquilo que não vivemos. É isso... aqui não há passado, só presente... e todos os futuros que o presente alimenta. Aqui somos a soma de todos os dias de todos os tempos... porque, mesmo que queiramos, não conseguimos viver ontem... É essa a oferta destas terras. Tudo junto, num só lugar, num só tempo... Por isso podemos estar no lugar certo e ao mesmo tempo fora do lugar... Como se nos víssemos pequenos, crianças, a crescer e a brincar... e logo adultos, velhos, sentados na sombra daquele pomar e com vontade de jogar à bola, ou de mandar uma pedra ao rio porque podemos... ou subir àquela pedra e gritar ao ouvido do ar que passa. No quinto dia da viagem trazemos, a Idanha, mais memórias para juntar às nossas. Memórias de sons, cantilenas, mnemónicas para decorar trivialidades ou ideias especiais, palavras entre dentes e sussurros ao ouvido... pedaços de madeira, troncos e galhos de árvores que se transformam em som nas mãos de alguém. Aqui só somos felizes. E o céu é escuro à noite e claro de dia, como deve ser. Idanha é um convite. Estar fora do lugar é irresistível. Aqui... temos memória daquilo que não vivemos... mesmo daquilo que não somos e que talvez gostássemos de ser. E começamos tudo outra vez como se fosse a primeira... vez. Até já.

Everything together, in one place, in one time

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

In the fifth day of the journey we can stop. Stop to listen. To talk. We can stop in order to start again... or stop in order to stop. To see what’s there or just close our eyes and listen. These lands are new.... the earth in my hand falls to the ground of the same colour, that stone wasn’t there... and that tree that protects me used to be so small. Here we have a memory of what we didn’t live. It is the land, to which we are inexorably bound... it is the whistling wind, or the water that falls from the air in drops, sometimes heavy, sometimes not. The bright sun. The fog that conceals. The song of that bird. I don’t know how to explain it, but we are here, in Idanha, as if we had always been here. As if we had been born under that big rock that shelters the fox from the rain. We are brothers and sisters of this time and this space that is different here than in any other part of the world... Everything passes. Serenely. And we pass through everything. We remember, as if it were today, that which we didn’t live. And realise that... here there is no past, only present... and all the futures that are fed by the present. Here we are the sum of every day of every time... because, even if we wanted to, we can’t experience yesterday... That is the gift of these lands. Everything together, in one place, in one time... That is why we can be in the right place and, at the same time, out of place... As if we were seeing ourselves when younger, as children, growing and playing... and then as adults, old people, sitting in the shade of that orchard and wanting to kick a ball around, or to throw a stone into the river because we can... or to climb that rock and shout at the passing air. On the fifth day of the journey we bring more memories to Idanha to add to our own. Memories of sounds, songs, mnemonics for remembering trivia or special ideas, muttered words and whispers... pieces of wood, trunks and branches of trees that become sounds in someone’s hands. Here we are simply happy. And the sky is dark at night and light by day, as it should be. Idanha is an invitation. Being out of place is irresistible. Here... we have a memory of what we didn’t live... even of what we are not and would perhaps like to be. And we begin everything one more time as if it were the first... time. See you soon.

2015

Um exemplo cabal de capacidade de projecção e criatividade notáveis

Armindo Jacinto
Presidente do Município de Idanha-a-Nova
\Cidade Criativa da Música UNESCO

Mais um ano, mais um desafio. O Fora do Lugar – Festival Internacional de Músicas Antigas afirma-se como um dos fenómenos musicais mais originais do panorama nacional. Potenciado pelas oportunidades infindáveis que o território de Idanha-a-Nova oferece, o nosso “pequeno festival andarilho” continua a surpreender os seus públicos com a programação que propõe, cruzando, de uma forma particularmente feliz, intérpretes, repertórios e lugares. Se, com efeito, podemos afirmar que as terras de Idanha e a música estão intrinsecamente ligadas este é um desses momentos em que tal ligação se torna particularmente visível. É do conhecimento comum que a herança musical de Idanha constitui uma das suas maiores riquezas. Mas é algo mais do que uma ligação que perpetua um passado e os modelos herdados. É um processo de dinamismo crescente que, ao mesmo tempo que guarda essas matrizes que fazem as delícias de muitos, abre-se, cada vez mais para a partilha de novas formas da experiência musical, buscando outros caminhos, feitos de cruzamento e inovação, capazes de demonstrar quão fértil é o potencial criativo desta região – um dos principais motivos de interesse, reconhecido no seio do conjunto de especialistas e membros da Rede das Cidades Criativas da UNESCO, na área da música, que estiveram reunidos em Idanha-a-Nova em Fevereiro último, a quem nos demos a conhecer. As impressões recolhidas, extremamente positivas, foram um apoio inestimável na conclusão do processo de candidatura a esta rede, submetida no passado mês de Julho. Entre os motivos de interesse mais destacados, encontramos o Fora do Lugar, considerado um exemplo cabal de capacidade de projecção e criatividade notáveis, que rompe convenções, ao assumir a pequena escala, o diálogo musical e a aproximação aos espaços e aos públicos rurais, como marcas distintivas de um projecto – reunindo os mais jovens, os menos jovens, os que ouvem, os que dançam, os que conversam, os que já conhecem o campo, os que ainda não, os que querem ser surpreendidos, enfim, todos os que se revejam num conceito de música onde o tempo e o(s) espaço(s) são deveras relativos. Esta visão é, também, a nossa visão, e daí a facilidade com que a parceria se estabeleceu e se mantém ao longo destes quatro anos que assinalamos na edição de 2015. Uma edição que expressa, sem peias, quão importante a música é para todos nós, que nos importamos com este lado do nosso país. 

A viagem começou

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

E estamos no quarto dia da viagem... Ontem, como hoje, estamos aqui, onde devemos estar, no lugar mais bonito do mundo e a partir dele vê-se o mundo de outra forma. É inevitável ver o mundo de outra forma quando nos cruzamos com pessoas felizes... A natureza é feliz aqui e até o horizonte sorri. A viagem começou. Na bagagem levamos a ideia de trazer aos lugares mais ou menos inesperados das terras mágicas da Idanha a música dos nossos mundos, popular e erudita, antiga e nova. Na bagagem de cada um esta música mistura-se com as cores da outra. Esta é a bagagem de todos nós, um conjunto de peças enxertadas pelo tempo, com cores que são difíceis de identificar. Uma espécie de bagagem enxertada em vida. Essa é a nossa história, a história da nossa bagagem. Somos o que levamos connosco e o que encontramos. E estamos sempre fora do lugar... porque não há nenhum lugar onde é suposto estarmos. Não há lugar melhor...
No quarto dia de viagem chegámos aqui. No horizonte vemos pessoas a conversar. Ouvimos o que dizem e dizem que ontem já foi hoje e que amanhã será ontem. É inevitável. É tudo tão antigo como novo. Daqui partimos para o mundo para mostrar que aqui, nesta Idanha, no meio desta península, se pode fazer tudo de novo todos os dias.
No horizonte deste dia podemos ouvir as línguas da península, todos os sons que se fazem nos cantos e no meio desta terra virada para o mar. Passa a caravana e bailamos o mundo. Ao longe ouvimos duas raparigas de longe, vindas do meio da Europa, a tocar e a cantar o mediterrâneo. Agora estamos no meio de outra viagem, de uma viagem que começou há mais de um milénio vinda do sul. Já quase no fim do dia vem uma guitarra com outros quatro viajantes. E chegamos ao fim desta viagem, deste ano, deste dia que continua. Acabamos, por agora, com a voz... outra voz que vem de longe... uma voz que “regressa ao seu amor ancestral... contar histórias. Um amor que vem de longe, do antigo prazer de... ouvi-las. Tudo acontece na mágica passagem do dia para a noite, quando tudo, mesmo o tempo, agora e depois, está suspenso....”*.
São muitos dias para ouvir e viver e muitos outros momentos, outras histórias, passeios, viagens, conversa, troca e aprendizagem, bagagem de cá e de lá, mais ou menos enxertada. Músicos e púbico juntos como se fosse possível isso acontecer em qualquer lugar... 
* Marco Beasley 2013 (trad. Filipe Faria)

2014

Permanências, mudanças e rupturas

Armindo Jacinto
Presidente do Município de Idanha-a-Nova
\Cidade Criativa da Música UNESCO

O ano de 2014 assinala a terceira edição do Fora do Lugar – Festival Internacional de Músicas Antigas, um dos projectos culturais mais relevantes na área da música na região. Apoiado desde o primeiro momento pelo Município de Idanha--a-Nova, na qualidade de parceiro, este projecto assume um papel de relevo no contexto da sua linha de intervenção no plano cultural, em particular no que diz respeito ao desenvolvimento do diálogo entre formas musicais e da atitude perante a música antiga, abordando de um modo inovador os conceitos de erudito/popular e antigo/contemporâneo. A fronteira entre estas noções, longe de ser linear, surge aqui como uma experiência que, mais do que tudo, nos faz reflectir sobre os processos históricos que conduzem de uma linha musical a outra, feitos de permanências, mudanças e rupturas, muitas delas surpreendentes. Ao longo da história da música, passado e presente cruzam caminhos incessantemente. Não é por isso de estranhar um programa com presenças tão diversas: do jazz ao eco dos esplendores do Al Andalus,passando pela exuberância do barroco alemão e a expressividade da world music.
Um conceito provocador? Sim, e tão assumido como os próprios espaços de realização do festival que rompem, também eles, com as convenções e estereótipos vigentes. Eficaz? Os resultados das edições anteriores falam por si, reforçando a validade de uma opção política que ilustra, ao nível local, a capacidade de produzir cultura num cenário onde muitos não concebem pensá-la neste moldes: o país perdido das pequenas aldeias quase desertas.
Daqui releva uma das virtudes maiores do projecto, a possibilidade de chegar até onde mais ninguém se deu ao trabalho de ir, cumprindo um objectivo que, sendo do Município de Idanha-a-Nova, deveria ter reflexos mais amplos na realidade nacional – umreal e generalizado acesso à diversidade cultural dos nossos dias.
Ao longo do tempo Idanha tem investido, como poucos, neste sentido. Por esta razão, 2014 marca, igualmente, mais uma etapa no caminho da validação deste esforço e do reconhecimento das valências e dinamismo culturais deste território, com a candidatura, em curso, à Rede das Cidades Criativas da UNESCO, precisamente na categoria da Música. Neste contexto, onde tradição e modernidade convivem e dialogam em permanência entre si, o contributo do Fora do Lugar – Festival Internacional de Músicas Antigas afigura-se decisivo. Sobre as terras de Idanha recaem não apenas as expectativas das suas gentes, mas as de todos aqueles que, neste e noutros projectos promovidos pelo Município, revêem o tremendo potencial do mundo rural português.

2013

À descoberta dos sons e dos lugares de Idanha

Armindo Jacinto
Presidente do Município de Idanha-a-Nova
\Cidade Criativa da Música UNESCO

Desde 2001, que, na sua estratégia de política cultural, o Município de Idanha-a-Nova considera o registo da música antiga como um elemento estrutural nas suas linhas de programação anuais e plurianuais. As acções desenvolvidas ao abrigo do projecto de Animação das Aldeias Históricas (2001-2003) e de parcerias intermunicipais (3 Culturas - Évora, Idanha-a-Nova e Mértola - 2003/2006) e internacionais (Cultura 2007 - 2013: Projecto Oralidades - Portugal: Évora, Idanha-a-Nova e Mértola; Espanha: Ourense; Itália: Ravenna; Malta: Birgu; Bulgária: Sliven) demonstraram-se reveladoras do interesse que este registo musical suscita no território, quer junto das comunidades residentes no concelho de Idanha-a-Nova, quer junto dos territórios limítrofes, englobando ainda públicos mais distantes, quase sempre com uma resposta muito positiva às propostas apresentadas.
A primeira edição do Fora do Lugar - Festival de Músicas Antigas, decorrida entre 1 e 15 de Dezembro de 2012, constituiu um notável salto em frente em termos da confluência de interesses entre os dois parceiros envolvidos (Município de Idanha-a-Nova e Arte das Musas), plenamente revelada na qualidade do programa desenvolvido, no grau de visibilidade do evento e do território que o suportou e na considerável adesão de públicos - oriundos não só da região, como de outros pontos do país, conforme foi possível aferir ao longo do festival. A isto acresce ainda, o interessante contributo para a dinamização sócio-económica e cultural da região, perceptível não apenas no reflexo da afluência de público junto da restauração e alojamento locais, ao longo dos vários dias de duração do festival, mas, também nas iniciativas paralelas, promovidas a partir das comunidades e produtores locais, que encontraram nesta iniciativa o cenário ideal para mostras e provas, o que se traduz num claro incentivo à valorização e comercialização dos produtos da região.
O Outono de 2013 renova o convite à descoberta dos sons e dos lugares de Idanha. O festival internacional de músicas antigas Fora do Lugar, cuja segunda edição decorre de 22 de Novembro a 14 de Dezembro deste ano, dá continuidade a duas características que, de certo modo, constituem a sua pedra de toque: a ousadia de se apresentar em locais fora do contexto habitual à realização de espectáculos desta natureza, que permite testar o grau de interesse que leva os públicos a movimentar-se em conformidade; e a capacidade de envolver os agentes culturais da região nas respectivas dinâmicas de produção.
Justo motivo de orgulho para todos, esta reunião de condições traduz-se num desejável incremento da produção cultural na nossa região e no reconhecimento do dinamismo e da capacidade de intervenção do município, envolvendo as respectivas comunidades e actores, junto de entidades e produtores de nível internacional. 
Bem hajam. 

O canto - ou o uivo - é tão antigo como o Homem

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

JP Simões respondeu assim ao desafio de abrir esta edição Fora do Lugar: A arte do trovador é mais antiga que a primeira teoria da música desenhada pelos chineses há cerca de cinco mil anos: o trovador canta o amor, a vitória e a derrota, o escárnio e a redenção, o mundo e o seu mistério, desde que estas coisas começaram a ser verbalizadas, ou mesmo antes, uivando à lua. O canto - ou o uivo - é tão antigo como o Homem e não custa imaginar que este foi sempre o incentivo para o desenvolvimento de novos desenhos de instrumentos musicais - mais ou menos inovadores.
Assim que foi inventado o primeiro instrumento musical - porque disso se tratava, de inventar novas formas de fazer som agradável para encher os dias e as noites de outras cores - este, com certeza, serviu de instrumento de acompanhamento à voz, o mais complexo e orgânico de todos os instrumentos. Milhares de anos depois ainda hoje podemos testemunhar a inevitável tentação de cantarolar acompanhado, de forma improvisada e lúdica ou de forma maturada e carregada de sentido(s).
A edição 2013 do Fora do Lugar abre com um homem atrás de uma guitarra - que por ser homem que canta à lua, é um trovador - e encerra com outro homem atrás de outra guitarra. São tão diferentes mas tão parecidos os seus percursos e tão antigos como novos. JP Simões e Pedro Caldeira Cabral partilham a tentação da música como processo de crescimento pessoal e de aproximação ao que é mais sublime. Aliás, ambos partilham moléculas com cerca de seis milhões de anos.
É aqui, Fora do Lugar, que podemos assistir a estas coincidências ou diálogos. Aqui, a renovada esperança de diálogo entre a ancestralidade e a contemporaneidade, entre a arte do mundo, a da academia e a das tradições populares tem o seu lugar. É este o seu lugar. E são as terras de Idanha, as mágicas terras de Idanha, que nos inspiram. A promoção destes diálogos tem o poder de valorizar as tradições regionais - ancestrais ou contemporâneas - do nosso país, da Europa e do Mundo, sem fronteiras.
Aqui podemos ouvir ainda as vozes humanas e despidas das Segue-me à Capela no meio de alfaias agrícolas; a música e as nove musas antigas do L’Aspiration entre Cegonhas; o assombro da capacidade vocal humana de Gabriel Díaz e Sara Águeda num Palheiro de pedras tão antigas; o encontro entre a experiência do Concerto Campestre e a juventude dos Coros Voximini e Voximix numa Casa que é do povo; o jazz sem fronteiras de Mário Franco, Sérgio Pelágio e André Sousa Machado num Lagar ancestral; e as sete línguas dos sete cantos da pequena península ibérica de Noa Noa, Artur Fernandes e João Hasselberg no fabuloso sítio de pedras e ar de S. Pedro de Vir-a-Corça.
São nove concertos e muitos ateliers, visitas, exposições, passeios, mostras e masterclasses de 22 de Novembro a 14 de Dezembro possíveis porque foi possível desenhar uma rede de parcerias, nacional e regional, que potencia a promoção destes fabulosos destinos patrimoniais e a valorização da massa crítica que nos últimos anos o municípiode Idanha-a-Nova tem vindo a promover, com assinalável sucesso.
Termino agradecendo às instituições que nos apoiam nesta aventura Fora do Lugar: Secretaria de Estado da Cultura, Direcção-Geral das Artes, Centro Cultural Raiano, Instituto Politécnico de Castelo Branco - Escola Superior de Gestão de Idanha-a-Nova, Naturtejo, Direcção Regional de Cultura do Centro, Aldeias Históricas de Portugal e Antena 2. 
Agradeço de forma especial à Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, na pessoa do seu presidente, pela parceria e amizade com que recebeu, deu casa e alimentou este projecto. Bem vindos.

2012

Feito de ecos de outros tempos e lugares

Armindo Jacinto
Presidente do Município de Idanha-a-Nova
\Cidade Criativa da Música UNESCO

Em Idanha, o Outono traz consigo um convite acolhedor, feito de ecos de outros tempos e lugares. Fora do Lugar é o primeiro festival internacional de músicas antigas em terras de Idanha, que decorre de 1 a 15 de Dezembro deste ano.
Este encontro é o feliz resultado da convergência de múltiplas experiências e o fruto de um significativo trabalho em rede, que se estende por um tempo considerável. Há vários anos que Idanha-a-Nova vem desenvolvendo uma programação cultural baseada em critérios de qualidade e diversidade, dividida entre as múltiplas vertentes que estão ao seu alcance. Estes princípios orientadores têm conduzido, pouco a pouco, à afirmação dos objectivos de uma missão que, desde sempre, se nos afigurou essencial à nossa política cultural: o fomento da acção cultural enquanto serviço público, com um carácter multidisciplinar e multicultural, visando o desenvolvimento de uma forte identidade local e regional, capaz de se reflectir em planos mais alargados.
Os esforços envidados pelo Município nesse sentido são uma aposta estratégica, essencial à salvaguarda da riqueza patrimonial da região - material e imaterial- à valorização das matrizes identitárias das comunidades aí presentes, e ao desenvolvimento das capacidades necessárias a um diálogo equilibrado entre registos culturais distintos.
Condições importantes, sem dúvida, ao desejável incremento da produção cultural na nossa região, da sua fruição e reconhecimento. Fora do Lugar é um bom exemplo deste processo, representando o crescimento ‘natural’ de uma ligação prévia ao território, efectivada através de um dos projectos internacionais em que o Município de Idanha-a-Nova participou em tempos recentes, o Projecto Oralidades | Cultura 2007-2013. Fora do Lugar é também o reconhecimento do dinamismo e capacidade de intervenção cultural deste município, respectivas comunidades e actores culturais perante entidades e produtores de nível internacional, que se traduz num justo motivo de orgulho para todos nós. Bem hajam.

Uma renovada esperança de diálogo

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas

Nascido num momento de grande incerteza e perplexidade - no qual tudo parece estar fora do lugar - o projecto do Festival Fora do Lugar procura desafiar a comunidade artística e o público nacional a encontrar, na arte, uma renovada esperança de diálogo entre a ancestralidade e a contemporaneidade, entre a arte do mundo, a da academia e a das tradições populares. A promoção destes diálogos nestes dias aparentemente cinzentos tem o poder de promover a valorização das tradições regionais do nosso país, quando integradas numa programação descentralizada, descomplexada mas preocupada com a formação de novos públicos para as artes antigas, raízes do tempo presente..
Fora do Lugar tem como objectivo promover e desenvolver um projecto de fusão entre a ancestralidade e a contemporaneidade e o diálogo da arte e da cultura com o património, as tradições populares e a ecologia humana. Este é um espaço onde a experimentação, a aprendizagem, a aventura, a fruição musical, cultural e da natureza, a criação, o diálogo e a promoção de novas linguagens é enquadrada por um contexto complementar de relação com os espaços patrimoniais – expectáveis ou inesperados – da cultura erudita, da cultura popular ou da arqueologia industrial e agrícola.
O Festival oferece, na sua primeira edição, um conjunto seis concertos, uma conferência proferida pelo professor Rui Vieira Nery (presidente da Comissão de Honra do Festival), dois workshops e um conjunto de programas integrados na rede Naturtejo, num período de quinze dias, em nove espaços patrimoniais do lindíssimo concelho de Idanha-a-Nova. O Festival abre a porta de lagares ancestrais onde ainda se pode cheirar o azeite, capelas antigas de pedra e arte, casas familiares históricas, hangares de fábricas agrícolas desactivadas, palacetes oitocentistas e outros centros de cultura.
A rede de parcerias, nacional e regional, potencia a promoção dos fabulosos destinos patrimoniais do concelho de Idanha-a-Nova e a valorização da massa crítica que nos últimos anos o município tem vindo a manter, com assinalável sucesso, num conjunto de iniciativas integradas de programação.
Acabo agradecendo às instituições que nos apoiam nesta aventura: Secretaria de Estado da Cultura, Direcção-Geral das Artes, Projecto Oralities Our common heritage, Centro Cultural Raiano, Naturtejo, Delta Cafés e Antena 2 e em especial à Câmara Municipal de Idanha-a-Nova pela parceria e amizade. Sem a boa vontade de todos seria impossível estarmos aqui.
Bem vindos!